top of page

II

 

Não procuro nomes para mortos desconhecidos

no entanto queria que eles existissem.

Queria que uma língua anónima

- a minha –

falasse de muitos mortos incógnitos.

Aquilo a que chamamos paz

significa apenas o breve alívio da trégua.

Se o nome ajuda a definir a identidade

nenhum destes mortos atingiu o seu destino.

 

Nada mais há senão lugares, isolados numa ilha

de onde observamos o Continente

o Oriente – as suas guerras

o pó que projectam para confundir

o veredicto: não somos salvos

nem salvamos

a não ser com uma coragem oblíqua

com um gesto

de ínfima luz 

 

Tradução: Jamie McKendrick

 

1998

Agora só resta a chuva que abençoa o caminho

e na água agitada uma luz redentora quase nos guia.

Será curta a distância até ao fulgor.

Do forno onde se prepara a comida elevam-se

densas nuvens,

tudo pouco diferente da vida de sempre:

uma diferença no gesto de pôr a mesa para a ceia

uma luz na fenda da parede

entreaberta para terras de paz.

Fogo de cidra a contornar os campos.

Assim veremos os rostos dos ausentes

as iniciais dos nomes arrasados pelos lapíli

nenhuma dor, apenas o movimento das mãos

a afastar o fumo

e noite após noite: uma fissura

Tradução: Emílio Coco

Noites de paz ocidental

Para encontrar a razão de um verbo

porque na verdade ainda não é tempo

e nós não sabemos se  acorrer ou fugir.

Anoitece como se fosse Dezembro

as casas enaltecidas com a mudança

ganham forma na escuridão   

enquanto o assado inflama as paredes.

Estas são as noites de paz ocidental

no seu âmago pairam a angústia das biografias,

a sombra dos retratos, a cartografia dos nomes.

Defendemo-nos do outro lado em silêncio

como o peso do mar sobre a rede

lançada ao largo, com desespero.

 

Tradução: Anamaría Crowe Serrano & Riccardo Duranti

poemas de Notti di pace occidentale Antonella Anedda

1998

 

Ora è solo pioggia che benedice la strada

e nell'acqua che trema quasi una luce redenta da seguire.

Sarà una piccola distanza dal fulgore.

Dal forno dove il cibo si innalza

alle nuvole brune

tutto appena diverso dalla vita di sempre:

uno scarto nel gesto che depone i piatti per la sera

una luce nella crepa del muro

schiusa verso terre di pace.

Fuoco di cedro lungo i bordi del campo.

Così vedremo i volti degli assenti

le iniziali dei nomi travolte dai lapilli

nessun dolore ma il moto delle mani

che allontanano il fumo

e notte tra la notte: una fessura.

II

Non volevo nomi per morti sconosciuti
eppure volevo che esistessero
volevo che una lingua anonima 
– la mia – 
parlasse di molte morti anonime. 
Ciò che chiamiamo pace 
ha solo il breve sollievo della tregua. 
Se nome è anche raggiungere se stessi
nessuno di questi morti ha raggiunto il suo destino. 

Non ci sono che luoghi, quelli di un’isola
da cui scrutare il Continente
l'oriente – le sue guerre
la polvere che gettano a confondere
il verdetto: noi non siamo salvi
noi non salviamo
se non con un coraggio obliquo
con un gesto 
di minima luce.

Notti di pace occidentale 

Per trovare la ragione di un verbo
perché ancora davvero non é tempo
e non sappiamo se accorrere o fuggire.
Fai sera come fosse dicembre
sulle casse innalzate sul cuneo del trasloco 
dai forma al buio 
mentre il cibo s’infiamma alla parete.
Queste sono le notti di pace occidentale
nei loro raggi vola l'angustia delle biografie
gli acini scuri dei ritratti, i cartigli dei nomi.
Ci difende di lato un'altra quiete
come un peso marino nella iuta
piegato a lungo, con disperazione

bottom of page