LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO LITERÁRIA
AS PEQUENAS FABULAÇÕES DO CONTEMPORÂNEO
OU ALGUNS ESPECTROS DA POESIA EM BELÉM HOJE
Nilson Oliveira
DAS FABULAÇÕES
A fabulação, na literatura, é a via de passagens a outras experiências, para além da rota ordinária do mundo e seus significados. Zona de indeterminação entre o verdadeiro e o falso, potência que faz da linha escritural uma experimentação, acontecimento modulado pela velocidade dos devires.
“Não há literatura sem fabulação, mas (...) a função fabuladora não consiste em imaginar nem em projetar um eu. Ela atinge, sobretudo, essas visões, eleva-se até esses devires ou potências”. (G.D) 1
DO CONTEMPORÂNEO
“Lesma
é o meu lema
e basta”.
(A.L) 2
“Suspenso no vazio entre o velho e o novo, passado e futuro, o homem é lançado no tempo como em algo de estranho, que incessantemente lhe escapa e todavia o arrasta para a frente sem que ele possa jamais encontrar nele o próprio ponto de consistência”. (G.A) 3
A IDEIA DO LABORATÓRIO
Consiste numa aposta na direção das obras – “A intrusa”, “O desastre toma conta de tudo”, “A letra da Água” – numa prática de encontro, ou seja, uma relação de atrito entre escrita e leitura. E nessa cadência, o jogo intensivo das diferenças, vitalidade que impulsiona leituras, manipula páginas, perscruta linhas, num espiral de interpretações, cujo em-comum se baseia num afeto que não dissimula a vontade de perceber os espectros da escrita contemporânea.
A aposta consiste em abordar, na leitura do poema, esses aspectos, pensando o poema e seus desdobramentos no oscilante jogo entre o escrever e o pensar. O laboratório é voltado para estudantes, novos escritores, artistas.
DINÂMICA
O Laboratório terá três módulos, entre abril e Junho, com 4 encontros por módulo, 03 horas para cada encontro.
Os módulos são baseados em leituras e conversações, análises, num exercício de crítica e criação. Consiste em, através da leitura de cada obra, pensar sobre a ideia da Escrita, com atenção aos processos e singularidades, analisando situações, modos, formas. Um mergulho nesse universo escritural, meditando sobre a pergunta: qual a fisionomia do contemporâneo?
Cada módulo encerra com a produção, por parte dos participantes do laboratório, de um exercício escritural, afeito direto (testemunho) da experiência das leituras e conversações.
Ao final de caba módulo será estabelecido um prazo intermediário destinado a receber e analisar a produção dos participantes.
Após o terceiro módulo teremos a organização do material (editado em forma de cadernos) produzido pelos participantes. A composição dos cadernos terá inicio após o final do ciclo.
A impressão e o trabalho gráfico ficam sob responsabilidade da Casa da Linguagem, em convergência com as possibilidades.
A ESCRITA QUE VEM
“A presença da poesia está porvir: ela vem para além do futuro e não cessa de vir (...). Uma outra dimensão temporal, diferente daquela que o tempo do mundo nos faz mestres, está em jogo em suas palavras, quando estas põem a descoberto, pela escansão rítmica do ser”.
“O acontecimento do qual o poema faz seu ponto de partida não é dado como fato histórico e real (...): ele só tem valor relativamente a todos os movimentos de pensamento e de linguagem que podem dele resultar, e cuja figuração sensível “com retiradas, prolongamentos, fugas” parece ser de outra linguagem, instituindo o jogo novo do espaço tempo”. (M.B) 4
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1. Gilles Deleuze, Critica e Clínica, p. 13
2. Adília Lopes. Dobra, poesia reunida, p 338. p, 592.
3. Giorgio Agamben, O Homem sem conteúdo, p, 175
4. Maurice Blanchot, O livro porvir, p.352-353.